quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A infância na China



Como posso colocar um título desses se nunca fui criança aqui?
Bom, porque eu sou uma observadora, e metida também, por isso vou contar mais uma vez sobre o que vejo e sobre o que falo com as pessoas por aqui.

Escolhi esse tema porque a dona da minha agência em Beijing está grávida, e como gosto muito dela, estou afim de mandar um presentinho. Pra isso, precisei recorrer à perguntinha básica: "É menino ou menina?"
Para minha surpresa ela veio me contar que não sabe, nem vai ficar sabendo até que a criança nasça. Os médicos são proibidos de revelar o sexo da criança porque como os chineses preferem (pra não dizer "só querem") ter filhos homens, muitas mulheres abortam se souberem que carregam uma "guria" na barriga.

Sim!!! 2011!!! Nossa presidente é mulher! Tem várias mulheres ganhando prêmio Nobel da paz por defenderem direitos iguais entre os sexos. E eu aqui encarando essas coisas? É nessas horas que dá aquela sensação de tentar passar por uma porta de vidro fechada! Onde a porta representa a tal da barreira cultural. Porque, por mais que eu enxergue o outro lado, não entendo (MESMO) com é estar ali...
Mas enfim! Vou aproveitar pra contar mais umas dessas coisinhas que me deixaram de boca aberta.


Desde que cheguei aqui, vejo crianças andando de bunda de fora, e todas as outras "partes" de fora. Isso porque usar fralda é caro (e tenho que fazer uma observação de que nesse caso, quem sai ganhando é o meio ambiente), e porque assim é mais prático, não tem que ficar trocando as crianças, é só ajudar ela a agachar no cantinho e fazer o que tem que ser feito. Depois recolhe-se o que for preciso ser recolhido. Essa parte eu nunca vi realmente, mas eu assim espero. Alguém vê nisso alguma semelhança com cachorrinhos de estimação? Eu não! Não é isso... Só achei que poderia ter passado isso pela cabeça de algum de vocês... (sim, já está na hora de tirar férias da China, eu entendo...)



Mas a foto ficou uma gracinha né?

Uma vez eu estava almoçando com minha amiga chinesa, e contei pra ela que lá em casa, temos o hábito de descansar depois do almoço. E ela me disse que, aqui, no jardim de infância, as crianças almoçam na escola e antes de começar o turno da tarde elas precisam dormir. – Precisam dormir? E se a criança não quiser? – perguntei achando que na verdade ela tivesse trocado o “precisam” por “podem”. – Bom, - diz ela – meu irmão mais novo ficou brabo com a professora e disse que não queria dormir. Durante uma semana ele teve que ficar de pé enquanto as outras crianças dormiam.

Hein??? Blam!!! Na porta de vidro de novo! Eu só ria, imaginando isso acontecer no colégio onde eu estudei...


Pra quem tem preguiça de estudar, espelhe-se nessa menina... ela está sentada numa rua que muito lembra a 25 de março em São Paulo as 18h...

Outra coisa que chama bastante minha atenção, é como muitas crianças são criadas “livres”. Correm pela rua, sentam no chão, engatinha onde querem, (e vou dizer que o chão pra limpo não serve...), andam de moto com os pais, sem capacete, brincam pra “lá e pra cá”, com “isso e aquilo” que encontram “aqui e ali”. E em geral as mães estão por ali, mas nem dando muita bola sabe?
Esses tempos, chegando em casa, passei por umas crianças quando me dirigia para o elevador, uma delas estava recém aprendendo a andar, já sabia correr e tudo, mas sabe quando elas param e ainda dão aquela cambaleadinha? No que eu passei, ela me seguiu e eu só vi quando entrei no elevador, me virei e vi a criança parada bem na porta. E não pensem que o sensor daquele elevador é bom... a porta só costuma abrir de novo quando já está quase esmagando uma mão.
Eu fiquei tentando empurrar a criança, que dava dois passos e voltava e ao mesmo tempo tentava chamar a mãe da criança, que não veio atrás dela, mas não esqueçam: EU NÃO FALO CHINES. E imaginem, toda essa cena acontecendo, e três chineses no elevador só assistindo. Exato! Eles nem tentaram me ajudar a chamar a mãe e nem falar em chinês pra criança VAZAR! Essa é a nossa amiga China...


Mas acho bonito de ver. Em qualquer condomínio, no fim da tarde, o pátio fica cheinho de gente. Crianças e pessoas cuidando de crianças. E elas brincam até gastar aquela energia que sobrou do dia, atropelam a gente com suas bicicletinhas, motinhos, patinetes, patins, ou correndo mesmo. Mas eu entendo, faz parte daquela cultura “vários corpos podem ocupar o mesmo lugar no espaço”. Esqueci de falar que isso também se aplica no trânsito.


Os bebês são carregados em carrinhos e também em “coletes para carregar bebês”. Já vi mães carregando um na frente e um nas costas. Inclusive essa mãe se virava pra lá e pra cá,como se tivesse nas costas apenas uma mochila, eu jurava que uma hora ela ia bater aquela criança. E já vi também um que parecia muito estar sufocando lá dentro. Até hoje acho que aquela criança virou anjinho...  Eu realmente não vejo aquilo como algo confortável, se eu fosse um bebê, ia preferir um colinho...

Quando falamos em crianças chinesas aí no Brasil, logo pensamos que aqui só existem filhos únicos certo? Errado!
Um chinês morador de cidade grande pode ter o segundo filho se o primeiro tiver vindo mulher, o governo da mais uma chance para o casal tentar ser feliz. Se não, o segundo filho só é permitido mediante ao pagamento de aproximadamente 2 milhões de RMB (algo como R$ 500.000). Se os pais não tiverem essa grana no porquinho, o filho não terá documentos, basicamente não existirá, não poderá ir para escola, não terá direito de um cidadão... Pensando assim, será que eles são mesmo apenas 1,3 bilhão?

Bom, esse post já está grande de mais. Se eu lembrar de mais coisas sobre crianças, vou escrevendo misturado a outros assuntos mesmo!

Abraços,






Nenhum comentário:

Postar um comentário